domingo, 16 de setembro de 2012

Os "Mendonças" do Amarelão

                                            


                                                      Os índios do "Amarelão" 

O “Amarelão” está situado no Município de João Câmara/RN, localizado a setenta quilômetros de Natal, com cerca de dois mil indivíduos e mais de duzentas famílias. Sua extensão territorial de aproximadamente cinco mil hectares apresenta uma terra seca e infértil, segundo atestam os próprios os moradores do lugar. 

O topônimo “Amarelão” está ligado a três versões advindas da herança cultural do grupo e de narrativas de sua história oral. De acordo depoimento tomado de um morador do Amarelão este topônimo surgiu porque os primeiros que chegaram para povoar a região eram de origem Tapuia (índios habitantes do interior norte-rio-grandense) e por terem a cor de pele “parda” , “amarela”, o lugar passou a se chamar Amarelão. 

Outra versão diz que um grande touro, muito bravo, de cor dourada (amarela) servia de diversão para os homens, quando promoviam rodeios, tentando amansar o animal e isso envolvia grande número de pessoas, transformando-se numa regular prática esportiva. Há também uma terceira versão, segundo a qual há muitos anos a população de João Câmara foi acometida por um surto epidêmico da febre amarela. Esta moléstia deixava a pele amarelada e atingiu também os “Mendonça”. Daí o lugar receber esse topônimo.

Fonte: Informações extraídas do livro: Fatos, causos e coisas. Autor: Aldo Torquato


Foto: Os índios do Amarelão e os alunos de João Câmara

Os Mendonças do Amarelão - Origens, Costumes e Tradições

Ninguém sabe ao certo quando os Mendonças chegaram ao local que hoje habitam, nem mesmo a origem do nome do lugar. A povoação formou-se, provavelmente, nos meados do século XIX, quando o Brasil ainda vivia o início do governo imperial Ninguém sabe ao certo quando os Mendonças chegaram ao local que hoje habitam, nem mesmo a origem do nome do lugar. É voz corrente entre os poucos historiadores que escreveram algo sobre os Mendonças que a povoação formou-se, provavelmente, nos meados do século XIX, quando o Brasil ainda vivia o início do governo imperial, portanto bem antes da cidade de Baixa-Verde ser fundada, o que só veio a acontecer em 1928.

Câmara Cascudo, em História de um homem, primeira edição (1954), livro que escreveu sobre João Severiano da Câmara, faz referência aos Mendonças, de quem diz que “moravam há mais de um século em regime tribal, mestiços de tupis fugidos dos aldeamentos que se tornaram vilas”. Em sendo assim, esta terá sido, muito provavelmente, a primeira povoação em toda aquela região circunvizinha, bem antes mesmo que Cauassu e Assunção.

A professora Jussara Galhardo Aguirres Guerra, em magnífica dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco, intitulada Mendonça do Amarelão: Os Caminhos e Descaminhos da Identidade Indígena no Rio Grande do Norte (Recife – 2007), após quase sete anos de pesquisas (2000 a 2007) conclui que os Mendonças são descendentes dos índios Tapuias, que habitavam a região de Araruna e Bananeiras no brejo paraibano, deslocando-se em levas durante o período que vai de 1830 a 1870, buscando refúgio depois de terem sido perseguidos por grandes proprietários que “compraram” as terras ao governo, as chamadas sesmarias. Em decorrência, diz a pesquisadora, “muitos dos nativos evadiamse para outros lugares mais seguros, formando aglomerados ou quilombolas porque perderam suas terras. Outros iam sendo aprisionados como escravos para servirem na lavoura das terras recém adquiridas”.

Foto: Pinturas rupestres encontradas no Amarelão

Foto: Pinturas rupestres de "mãos" 

                                              Foto: Flora típica do Amarelão 

Quanto ao topônimo, muitos atribuem que a sua denominação surgiu em função de uma epidemia de malária, conhecida também como maleita ou impaludismo. A doença teria assolado os habitantes da localidade, matando dezenas deles e deixando a população circunstancialmente com a pele amarelada. Como eram centenas os habitantes do lugar atacados pela doença, figurativamente as pessoas passaram a dizer que o lugar havia se transformado num verdadeiro amarelão. Gumercindo Saraiva, escritor conterrâneo, em trabalho realizado por minha encomenda como prefeito municipal, por ocasião do cinqüentenário de fundação do município, chegou à conclusão, extraída de relatos que obteve ainda quando criança, que o nome do lugar derivaria da cor naturalmente amarelada dos seus habitantes.

No que diz respeito às atividades laborativas dos Mendonças, sabe-se que, inicialmente, viviam quase que exclusivamente da caça e de pequenas lavouras de subsistência, tais como: feijão, milho e mandioca. Posteriormente, quando as grandes fazendas começaram a se instalar no Mato Grande, foram contratados em grupos de até cem homens para fazer os desmatamentos.

Quando chegavam ao local de trabalho, trazidos pelos caminhões do patrão, tratavam de armar seus puçás no armazém da fazenda, uns por cima dos outros. Depois, partiam para o campo, armados de chibancas, foices e machados, que conduziam sobre os ombros, e facas peixeiras na cintura. Milhares de hectares de terra foram desmatados por aqueles homens, mirrados, alimentados apenas com café preto, peixe avoador, rapadura e farinha seca, formando um verdadeiro exército de esquálidos, que, no entanto, tirando forças não se sabe donde, arrancavam pela raiz troncos erados, cortavam cardeiros, facheiros e cipós, matavam cobras venenosas, formavam grandes coivaras e depois tocavam fogo em tudo. Não se conhece um só grande proprietário de terra na região que não tenha se utilizado da sua mãode-obra eficiente e barata, contratada pelo sistema de “empeleitada”. Os Mendonças nunca gostaram de trabalhar na chamada “diária”. Foi através desse trabalho que os Mendonças passaram a se relacionar pessoalmente com homens como Antônio Câmara (Sêo Tonho) – por quem nutriam profundo respeito e admiração, trabalhando na fazenda Cavaco, situada no município de Touros, João Severiano da Câmara (em todas as suas vinte e tantas propriedades), seus irmãos Xandu e Loló, José Severiano, Antônio Justino, Pedro Torquato, Orlando Alves da Rocha, os irmãos Severo Victor e Felipe (Nô) Victor e muitos outros.



Além do desmatamento das terras ainda virgens, os Mendonças faziam o plantio e a colheita de diversas culturas, principalmente do algodão em seu período áureo. Com o rareamento dos trabalhos de desmatamento e a extinção do algodão pela praga do bicudo, na década de oitenta, os Mendonças passaram a viver quase que exclusivamente das suas pequenas lavouras de subsistência e da venda de castanhas de caju, que comercializam em Natal, nas repartições públicas e praias (é comum se encontrar um Mendonça vendendo castanha no Centro Administrativo e em Ponta Negra). Alguns, mais ousados, vão até o Recife. Durante os períodos em que abundam arribaçãs pela região, muitos deles se dedicam à caça dessas aves, que matam aos milhares e vendem nas cidades da região. Esta forma de sobrevivência tem lhes trazido inúmeros problemas, alguns chegando a ser presos, após entreveros com a polícia.


Fonte: Informações extraídas do livro: Fatos, causos e coisas. Autor: Aldo Torquato

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