Situada no município de João Câmara, a 80 km da capital e
pertencente à região do Mato Grande, a serra do Torreão é a sentinela mais
avançada do grande planalto da Borborema, no sentido norte-oriental. É um
iceberg solitário, com 145 metros de altura, de fácil escalação, recoberto de
vegetação hipoxerófila, onde predominam, inclusive, palmeiras nativas chamadas
de “coco-catolé” e cientificamente por siagrus coomosa, isoladas ou em densos
agrupamentos. Há, também, euforbiáceas e mimosáceas, bem como a presença de
exóticas, como a euphorbia tirucali, popularmente conhecida como “dedinho” ou “avelóz”, que é utilizada localmente como
cerca viva, com um látex terrivelmente cáustico que, segundo populares, tem
poderes medicinais contra afecções benignas e malignas da pele. Em seu cimo,
formado por uma calva granítica, conhecida como Pedra do Urubu, descortina-se
uma belíssima paisagem. No seu sopé, há uma capelinha dedicada a São Sebastião,
santo festejado efusivamente a 20 de janeiro pela população local que, após os
atos litúrgicos, costuma subir a serra até o seu cimo.
Foto: vista do alto do Turrião
Desde 1977, quando foi firmado um convênio entre a UFRN e a
Prefeitura Municipal, na época administrada pelo prefeito Aldo Torquato,
realizou-se importante estudo sobre a flora e a fauna da serra do Torreão,
desde então considerada oficialmente o símbolo da cidade. O referido trabalho,
chamado projeto Torreão, ocorreu de abril de 1977 até dezembro de 1978, com a
aquisição de farto material zoológico, infelizmente perdido por falta de sua
conservação, no âmbito da UFRN. Ainda dispõe-se de três livros de tombo, dois
dos quais contendo relatórios e fotografias do projeto e um contendo toda a
documentação fotográfica de uma exposição realizada na primeira semana de
dezembro de 1977, durante a festa da padroeira local, Nossa Senhora Mãe dos
Homens, na sala nobre do Colégio João XXIII. Cerca de 2.700 pessoas a
visitaram, num acontecimento inédito para a região e para a própria cidade.
Tais livros de tombo estão guardados na reserva técnica do Museu de História
Natural do Seridó, na Estação Ecológica do Seridó, Serra Negra do Norte-RN, e
tão logo se concretize um Museu de História Natural de João Câmara, para lá
serão deslocados.
Posteriormente, do final da década de 80 para o início da
década de 90, houve tentativas
fracassadas de recomeçar o Projeto Torreão, mas faltou o apoio tanto da UFRN
quanto da própria prefeitura municipal.
A vegetação da serra do Torreão é composta de duas formações
de caatinga. Uma, é a caatinga
hipoxerófila com uma vegetação de clima semi-árido, que apresenta arbustos e
árvores com espinhos e de aspectos menos agressivos do que a caatinga
hiperxerófila. Dentre as espécies, destacam-se a catingueira, angico, braúna,
juazeiro, marmeleiro, mandacaru e aroeira. A outra formação é a caatinga
hiperxerófila, que apresenta uma vegetação de caráter mais seco, com abundância
de cactáceas e plantas mais espalhadas e
de porte mais baixo. Dentre outras espécies destacam-se nesse ambiente a
jurema preta, o faveleiro, o marmeleiro, o xiquexique e o facheiro.
Os solos predominantes na serra do Torreão são os seguintes:
areias quartzosas distróficas com fertilidade natural baixa, textura arenosa,
relevo plano, excessivamente drenado; podzólico vermelho amarelo, equivalente
eutrófico, com fertilidade natural alta, textura média, relevo plano, moderada
e imperfeitamente drenado, medianamente profundo; cambissolo eutrófico, com
fertilidade natural alta, textura média, relevo plano, medianamente profundo.
As pesquisas realizadas pelo biólogo Adalberto Varela, da
UFRN e coordenadas pelo professor José Aldo Monteiro, do grupo GENV, um dos
entusiastas com o estudo e preservação da serra do Torreão, descobriram várias
espécies desconhecidas na sua fauna rica de insetos aracnídeos, lagartos,
serpentes, moluscos terrestres, aves e mamíferos. Ao todo, foram encontradas
treze espécies de serpentes, mas a grande surpresa foi a descoberta de larvas
de formiga-leão, da família dos neurópteros e uma espécie rara de escorpião
preto, até então desconhecida da biologia, o Rhopalurus baixaverdensis que, por
se tratar de uma espécie nova, recebeu o nome em homenagem à cidade.
Outra espécie rara, conhecida vulgarmente como Lagarto Rex, de tamanho pouco superior a uma
lagartixa e menor que um Tejuaçu, também é encontrada no local ,e somente nele,
em toda a região do Mato Grande.
AS LENDAS QUE ENVOLVEM A SERRA DO TORREÃO
Conta o professor Gino Miranda, nascido na localidade Corte,
quase ao pé da serra do Torreão, que, durante muitos e muitos anos, corria à
boca pequena que, na década de vinte do século passado, um certo Júlio dos
Matias, dado a pitar um inseparável cachimbo - de onde saíam abundantes
baforadas -, mulato muito querido e conhecido em Baixa-Verde, por conta das
suas histórias fantasiosas, gostava muito de caçar na serra. Os amigos sempre o
preveniam dos riscos que corria, visto que uma onça habitava o lugar. Certo dia
o mulato Júlio foi caçar e não retornou à noite, como era de costumes.
Apreensivos, os amigos e familiares foram à sua procura logo
que raiou o dia e só encontraram os seus restos mortais graças a uma fumacinha
que saía do cume da serra, onde fica a chamada pedra do urubu. Tal fumaça foi
entendida como sendo um indicativo do local onde o corpo estava e teria saído,
segundo os supersticiosos, do cachimbo do velho. Assim nasceu a lenda do
Torreão Cachimbando, que na época servia para explicar o fenômeno meteorológico
que ocorre nas serras em época de grandes invernadas, em dias mais frios,
principalmente nas primeiras horas do dia, quando o cume da serra amanhecia
todo envolvido por uma densa camada de nuvens, que se desfazia logo que o sol
começava a esquentar.
Muitas pessoas diziam também que os estrondos que davam em
Baixa-Verde eram por conta de uma cama de baleia que havia debaixo da serra.
Segundo a crendice popular, o local, muito antigamente, fora mar e um grande
reservatório de água se escondia por sob a serra. Nesse reservatório, morava
uma baleia gigante que, quando se movia, provocava os estrondos.
OS PASSEIOS PELA SERRA DO TORREAO
Uma das coisas mais gostosas de se fazer, é visitar a serra
do Torreão, principalmente nos períodos invernosos. Além do contato com a
natureza, inclusa vegetação remanescente da Mata Atlântica, tem-se uma ampla e
bela visão de parte das regiões do Mato Grande e Central.
Do alto da serra do Torreão são avistadas, num raio de,
aproximadamente, setenta quilômetros, as seguintes localidades: ao poente, num
primeiro momento, as localidades de
Pedra D`água, Amarelão e o Assentamento Santa Terezinha. Lançando-se o olhar na
linha do horizonte, a serra do Cabugi, por inteiro, a uma distância de
aproximadamente 50 quilômetros em linha reta; ao nascente, no sopé, o açude
Grande, construído por ocasião da passagem da rede ferroviária. Logo a seguir,
a cidade de João Câmara. Mais ao longe, a BR-406, cujo eixo foi construído
tendo por azimute o cume da serra, e as comunidades de Assunção, Matão, Cravo,
Aroeira, Arizona e Samambaia, esta já no município de Poço Branco, e a Serra
Pelada, no município de Taipu; ao Norte, pras bandas das praias, avistam-se as
comunidades de Morada Nova, Breginho,
Assunção, diversos Assentamentos Rurais e a Serra Verde, com todas as
comunidades situadas no seu lombo; ao sul, podem-se ver todas as comunidades
que margeiam o rio Ceará-Mirim (Pousa, Ladeira Grande, Passagem dos Caboclos,
Passagem de Pedra, Várzea do Domingo, Riacho Fundo, Riacho da Fazenda e Valentim), e as cidades de Bento Fernandes
e Santa Maria, esta localizada a mais de 50 quilômetros em linha reta e seus respectivos povoados.
Durante o inverno, quando todo o chão vislumbrado a partir
do cume da serra do Torreão parece um tapete multicolorido, com diversas
tonalidades de verde e azul, proveniente dos campos e dos espelhos d’água dos
açudes, barreiros e riachos cheios, a
visão que se tem do alto da serra é simplesmente encantadora.
Foto: Vista do Turrião
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