domingo, 16 de setembro de 2012

A Serra do Turrião (João Câmara RN)


Situada no município de João Câmara, a 80 km da capital e pertencente à região do Mato Grande, a serra do Torreão é a sentinela mais avançada do grande planalto da Borborema, no sentido norte-oriental. É um iceberg solitário, com 145 metros de altura, de fácil escalação, recoberto de vegetação hipoxerófila, onde predominam, inclusive, palmeiras nativas chamadas de “coco-catolé” e cientificamente por siagrus coomosa, isoladas ou em densos agrupamentos. Há, também, euforbiáceas e mimosáceas, bem como a presença de exóticas, como a euphorbia tirucali, popularmente conhecida como “dedinho”  ou “avelóz”, que é utilizada localmente como cerca viva, com um látex terrivelmente cáustico que, segundo populares, tem poderes medicinais contra afecções benignas e malignas da pele. Em seu cimo, formado por uma calva granítica, conhecida como Pedra do Urubu, descortina-se uma belíssima paisagem. No seu sopé, há uma capelinha dedicada a São Sebastião, santo festejado efusivamente a 20 de janeiro pela população local que, após os atos litúrgicos, costuma subir a serra até o seu cimo.

                                          Foto: vista do alto do Turrião

Desde 1977, quando foi firmado um convênio entre a UFRN e a Prefeitura Municipal, na época administrada pelo prefeito Aldo Torquato, realizou-se importante estudo sobre a flora e a fauna da serra do Torreão, desde então considerada oficialmente o símbolo da cidade. O referido trabalho, chamado projeto Torreão, ocorreu de abril de 1977 até dezembro de 1978, com a aquisição de farto material zoológico, infelizmente perdido por falta de sua conservação, no âmbito da UFRN. Ainda dispõe-se de três livros de tombo, dois dos quais contendo relatórios e fotografias do projeto e um contendo toda a documentação fotográfica de uma exposição realizada na primeira semana de dezembro de 1977, durante a festa da padroeira local, Nossa Senhora Mãe dos Homens, na sala nobre do Colégio João XXIII. Cerca de 2.700 pessoas a visitaram, num acontecimento inédito para a região e para a própria cidade. Tais livros de tombo estão guardados na reserva técnica do Museu de História Natural do Seridó, na Estação Ecológica do Seridó, Serra Negra do Norte-RN, e tão logo se concretize um Museu de História Natural de João Câmara, para lá serão deslocados.

Posteriormente, do final da década de 80 para o início da década de 90,  houve tentativas fracassadas de recomeçar o Projeto Torreão, mas faltou o apoio tanto da UFRN quanto da própria prefeitura municipal.
A vegetação da serra do Torreão é composta de duas formações de caatinga. Uma,  é a caatinga hipoxerófila com uma vegetação de clima semi-árido, que apresenta arbustos e árvores com espinhos e de aspectos menos agressivos do que a caatinga hiperxerófila. Dentre as espécies, destacam-se a catingueira, angico, braúna, juazeiro, marmeleiro, mandacaru e aroeira. A outra formação é a caatinga hiperxerófila, que apresenta uma vegetação de caráter mais seco, com abundância de cactáceas e plantas mais espalhadas e  de porte mais baixo. Dentre outras espécies destacam-se nesse ambiente a jurema preta, o faveleiro, o marmeleiro, o xiquexique e  o facheiro.

Os solos predominantes na serra do Torreão são os seguintes: areias quartzosas distróficas com fertilidade natural baixa, textura arenosa, relevo plano, excessivamente drenado; podzólico vermelho amarelo, equivalente eutrófico, com fertilidade natural alta, textura média, relevo plano, moderada e imperfeitamente drenado, medianamente profundo; cambissolo eutrófico, com fertilidade natural alta, textura média, relevo plano, medianamente profundo.

As pesquisas realizadas pelo biólogo Adalberto Varela, da UFRN e coordenadas pelo professor José Aldo Monteiro, do grupo GENV, um dos entusiastas com o estudo e preservação da serra do Torreão, descobriram várias espécies desconhecidas na sua fauna rica de insetos aracnídeos, lagartos, serpentes, moluscos terrestres, aves e mamíferos. Ao todo, foram encontradas treze espécies de serpentes, mas a grande surpresa foi a descoberta de larvas de formiga-leão, da família dos neurópteros e uma espécie rara de escorpião preto, até então desconhecida da biologia, o Rhopalurus baixaverdensis que, por se tratar de uma espécie nova, recebeu o nome em homenagem à cidade.
Outra espécie rara, conhecida vulgarmente como  Lagarto Rex, de tamanho pouco superior a uma lagartixa e menor que um Tejuaçu, também é encontrada no local ,e somente nele, em toda a região do Mato Grande.

AS LENDAS QUE ENVOLVEM A SERRA DO TORREÃO

Conta o professor Gino Miranda, nascido na localidade Corte, quase ao pé da serra do Torreão, que, durante muitos e muitos anos, corria à boca pequena que, na década de vinte do século passado, um certo Júlio dos Matias, dado a pitar um inseparável cachimbo - de onde saíam abundantes baforadas -, mulato muito querido e conhecido em Baixa-Verde, por conta das suas histórias fantasiosas, gostava muito de caçar na serra. Os amigos sempre o preveniam dos riscos que corria, visto que uma onça habitava o lugar. Certo dia o mulato Júlio foi caçar e não retornou à noite, como era de costumes.

Apreensivos, os amigos e familiares foram à sua procura logo que raiou o dia e só encontraram os seus restos mortais graças a uma fumacinha que saía do cume da serra, onde fica a chamada pedra do urubu. Tal fumaça foi entendida como sendo um indicativo do local onde o corpo estava e teria saído, segundo os supersticiosos, do cachimbo do velho. Assim nasceu a lenda do Torreão Cachimbando, que na época servia para explicar o fenômeno meteorológico que ocorre nas serras em época de grandes invernadas, em dias mais frios, principalmente nas primeiras horas do dia, quando o cume da serra amanhecia todo envolvido por uma densa camada de nuvens, que se desfazia logo que o sol começava a esquentar.

Muitas pessoas diziam também que os estrondos que davam em Baixa-Verde eram por conta de uma cama de baleia que havia debaixo da serra. Segundo a crendice popular, o local, muito antigamente, fora mar e um grande reservatório de água se escondia por sob a serra. Nesse reservatório, morava uma baleia gigante que, quando se movia, provocava os estrondos.

OS PASSEIOS PELA SERRA DO TORREAO

Uma das coisas mais gostosas de se fazer, é visitar a serra do Torreão, principalmente nos períodos invernosos. Além do contato com a natureza, inclusa vegetação remanescente da Mata Atlântica, tem-se uma ampla e bela visão de parte das regiões do Mato Grande e Central.

Do alto da serra do Torreão são avistadas, num raio de, aproximadamente, setenta quilômetros, as seguintes localidades: ao poente, num primeiro momento,  as localidades de Pedra D`água, Amarelão e o Assentamento Santa Terezinha. Lançando-se o olhar na linha do horizonte, a serra do Cabugi, por inteiro, a uma distância de aproximadamente 50 quilômetros em linha reta; ao nascente, no sopé, o açude Grande, construído por ocasião da passagem da rede ferroviária. Logo a seguir, a cidade de João Câmara. Mais ao longe, a BR-406, cujo eixo foi construído tendo por azimute o cume da serra, e as comunidades de Assunção, Matão, Cravo, Aroeira, Arizona e Samambaia, esta já no município de Poço Branco, e a Serra Pelada, no município de Taipu; ao Norte, pras bandas das praias, avistam-se as comunidades de Morada Nova,  Breginho, Assunção, diversos Assentamentos Rurais e a Serra Verde, com todas as comunidades situadas no seu lombo; ao sul, podem-se ver todas as comunidades que margeiam o rio Ceará-Mirim (Pousa, Ladeira Grande, Passagem dos Caboclos, Passagem de Pedra, Várzea do Domingo, Riacho Fundo, Riacho da Fazenda  e Valentim), e as cidades de Bento Fernandes e Santa Maria, esta localizada a mais de 50 quilômetros em linha reta e  seus respectivos povoados.

Durante o inverno, quando todo o chão vislumbrado a partir do cume da serra do Torreão parece um tapete multicolorido, com diversas tonalidades de verde e azul, proveniente dos campos e dos espelhos d’água dos açudes, barreiros e riachos cheios,   a visão que se tem do alto da serra é simplesmente encantadora.

Foto: Vista do Turrião   



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